The Outlast Trials é um mergulho ousado da Red Barrels no multiplayer, transformando o terror solitário da franquia Outlast em uma experiência cooperativa intensa e caótica. Lançado em 5 de março de 2024, após um ano em Early Access, este prequel ambientado na Guerra Fria coloca até quatro jogadores na pele de “Reagentes”, cobaias da sinistra Murkoff Corporation.

Abaixo, exploramos o que faz deste título uma montanha-russa de emoções.

Um Mergulho Histórico e Cultural

Nos anos de paranoia da Guerra Fria, a Sinyala Facility surge como um palco de horrores psicológicos, onde a Murkoff Corporation conduz experimentos desumanos de recondicionamento mental. A ambientação evoca a frieza estéril dos asilos do século XX, com ecos de desconfiança e poder institucional que ressoam com a história brasileira de resistência a regimes opressivos. Cada cenário — de delegacias ensanguentadas a parques de diversões grotescos — é um convite a um teatro macabro, onde a tensão é constante e o medo, palpável.

The Outlast Trials

Mecânicas: Sobrevivência em Grupo, Medo Individual

The Outlast Trials mantém a essência da franquia: você é frágil, desarmado e depende de furtividade para sobreviver. Correr, se esconder e gerenciar recursos como baterias de lanterna ou itens de cura são o cerne da jogabilidade. A grande novidade é o multiplayer cooperativo, que suporta até quatro jogadores. A comunicação é crucial, mas o jogo evita facilitar demais, sem marcadores de objetivos ou HUD intrusivo, o que intensifica a tensão e a camaradagem.

As “Provas” (Trials) são missões temáticas com objetivos como sabotar experimentos ou escapar de perseguidores implacáveis. A IA dos inimigos é imprevisível, mantendo a adrenalina alta, embora possa parecer injusta em momentos de emboscadas repentinas. A progressão, com customização de habilidades e perks, adiciona profundidade, mas pode ser lenta, o que pode frustrar jogadores brasileiros que preferem recompensas mais imediatas.

The Outlast Trials

Direção de Arte, Som e Ambientação: Um Pesadelo Sinfônico

A direção de arte é um dos pontos altos do jogo. Com uma paleta que mescla tons desbotados e vermelho-sangue, os cenários remetem a filmes de terror exploitation dos anos 70. Inimigos como Mother Gooseberry, com seu fantoche sádico, são grotescamente memoráveis, misturando absurdo e medo. Detalhes como pôsteres da Murkoff e objetos quebrados criam uma narrativa ambiental que fãs brasileiros, habituados a obras como Cidade de Deus, apreciarão pela profundidade.

O design sonoro é impecável, com uma trilha minimalista de drones industriais e silêncios opressivos que amplificam a tensão. Os efeitos sonoros — gemidos distantes, passos pesados — são precisos, mantendo o jogador no limite. A dublagem em inglês é sólida, mas a ausência de vozes em português é uma lacuna para o público brasileiro, apesar das legendas bem traduzidas.

 

Narrativa e Personagens: Um Experimento em Construção

A narrativa é mais fragmentada que nos jogos anteriores, focando em um mosaico de horrores psicológicos em vez de uma história linear. Os Reagentes são avatares genéricos, mas antagonistas como Leland Coyle e Mother Gooseberry brilham com performances exageradas e perturbadoras. Documentos e cutscenes revelam aos poucos os segredos da Murkoff, mas a falta de uma narrativa coesa pode decepcionar quem busca a profundidade emocional de Outlast 2. Para o público brasileiro, que valoriza tramas intensas como as de Tropa de Elite, isso pode parecer uma oportunidade perdida.

The Outlast Trials

Crítica Equilibrada: O Brilho e as Sombras

The Outlast Trials acerta ao expandir a fórmula Outlast para o multiplayer, criando momentos de adrenalina e risadas nervosas entre amigos — algo que combina com a cultura brasileira de compartilhar experiências intensas. A atmosfera opressiva e a direção de arte são impecáveis, mantendo o DNA da franquia. No entanto, a repetitividade de algumas missões, a progressão lenta e a falta de dublagem em português são limitações notáveis. Jogadores solo também podem se frustrar, já que a experiência com bots é menos envolvente.

The Outlast Trials

Conclusão: Um Espetáculo de Terror Compartilhado

The Outlast Trials é um experimento ousado que transforma o terror solitário de Outlast em um caos cooperativo viciante. Embora não alcance a profundidade narrativa dos antecessores, sua ambientação imersiva e jogabilidade tensa brilham no multiplayer. Para o público brasileiro, o jogo oferece um mergulho em temas universais de opressão e sobrevivência, mas sente-se a falta de um toque local na localização. É um carnaval macabro onde o ingresso vale a pena, especialmente com amigos, mas prepare-se para sair com o coração na boca.