REVIEW: Wuchang: Fallen Feathers – Um Soulslike nas Sombras da Dinastia Ming!

Opinião6 days ago

Introdução: Um Conto de Piratas e Pestes no Coração da China Antiga

No crepúsculo da dinastia Ming, onde a guerra civil e uma praga sobrenatural corroem a terra de Shu, Wuchang: Fallen Feathers emerge como uma carta de amor ao gênero soulslike, mas com uma identidade cultural distinta. Desenvolvido pela Leenzee, estúdio de Chengdu, e publicado pela 505 Games, o jogo, lançado em 24 de julho de 2025, transporta os jogadores para um mundo onde história e mito se entrelaçam em um balé de lâminas e feitiços. Inspirado em clássicos como Bloodborne e Sekiro: Shadows Die Twice, mas ancorado na rica tapeçaria da cultura chinesa, Wuchang não apenas presta homenagem aos pilares do gênero, mas esculpe sua própria marca, evocando a estética e a melancolia de uma era tumultuada. A protagonista, Bai Wuchang, uma pirata amnésica marcada pela misteriosa Doença do Emplumamento, é o fio condutor de uma jornada que mistura desespero, descoberta e um combate visceral que pulsa como um tambor de guerra.

Wuchang fallen feathers image 2

Jogabilidade: O Ritmo Brutal do Skyborn Might

No cerne de Wuchang: Fallen Feathers está seu sistema de combate, batizado de Skyborn Might, que eleva a fórmula soulslike a um novo patamar de fluidez e reatividade. Diferentemente de outros jogos do gênero, onde magia ou habilidades especiais exigem builds específicas, aqui elas são integradas de forma orgânica. Bai Wuchang alterna entre duas armas com um toque, cada uma com movesets únicos – de espadas longas, como a Cloudfrost’s Edge (inspirada no changdao chinês), a machados de duas mãos e armas de fogo arcaicas. A personalização é profunda: o jogador encanta armas com efeitos místicos e desbloqueia técnicas ao sacrificar o raro Mercúrio Vermelho, uma mecânica que dá um sabor quase alquímico à progressão.

O combate exige precisão cirúrgica, recompensando esquivas e defesas perfeitas com pontos de habilidade que desbloqueiam ataques especiais e magias. Essa abordagem incentiva uma postura agressiva, mas punitiva, onde cada erro pode ser fatal. Os chefes, verdadeiros colossos mitológicos, testam paciência e habilidade com padrões de ataque imprevisíveis e arenas que, embora belas, nem sempre brilham com a originalidade do restante do jogo. Alguns encontros, como o confronto com uma espadachim emplumada descrito em prévias, podem frustrar pela dificuldade abrupta, beirando o desequilíbrio. Ainda assim, a sensação de superar esses desafios é inebriante, reforçada por uma curva de aprendizado que respeita a inteligência do jogador.

A exploração é um deleite. O mundo interconectado de Shu, com templos esquecidos e ruínas cobertas de musgo, evoca a história de Sanxingdui e Jinsha, misturando elementos históricos com o fantástico. Santuários espalhados servem como pontos de salvamento, enquanto o Shu Sanctum atua como um hub central, reminiscente de Firelink Shrine de Dark Souls. A progressão não linear e as escolhas narrativas que afetam o desfecho da história adicionam camadas de rejogabilidade, embora a abundância de NPCs falantes possa, às vezes, quebrar o ritmo da imersão.

Direção de Arte, Som e Ambientação: Uma Ode à Estética Ming

Visualmente, Wuchang: Fallen Feathers é um espetáculo. Construído na Unreal Engine 5, o jogo apresenta paisagens vibrantes que contrastam com a escuridão temática do gênero soulslike. Diferente da paleta monocromática de muitos títulos inspirados em Dark Souls, aqui a China da dinastia Ming ganha vida com cores saturadas, florestas enevoadas e arquitetura que reflete a opulência e a decadência da era. As armaduras, inspiradas em tradições regionais e mitologia chinesa, são um destaque, com designs que variam de ornamentos de templos antigos a trajes corrompidos pela praga.

A trilha sonora, composta por instrumentos tradicionais como o erhu e o pipa, cria uma atmosfera que oscila entre o melancólico e o épico, complementando a narrativa. A dublagem, disponível em mandarim e inglês, é sólida, com destaque para a versão em mandarim, que captura a cadência poética da língua e adiciona autenticidade cultural. No entanto, a mixagem de som em certos momentos – como em batalhas intensas – pode sofrer com diálogos abafados pelos efeitos sonoros, um pequeno deslize que não compromete a experiência geral.

Narrativa e Personagens: Entre o Mito e a Memória

A narrativa de Wuchang é um mosaico de fragmentos, típico do gênero, mas com um toque pessoal. A amnésia de Bai Wuchang serve como um convite para o jogador preencher as lacunas de sua história, enquanto a Doença do Emplumamento, que transforma vítimas em criaturas aladas, adiciona uma camada de horror corporal à trama. Os NPCs, como o misterioso Heibai Wuchang, inspirado na mitologia taoísta, são carismáticos, mas alguns carecem de desenvolvimento, funcionando mais como expositores do que como personagens completos.

A história explora temas de perda, redenção e o peso do destino, com claras influências de contos folclóricos chineses e da filosofia taoísta. As escolhas do jogador moldam o final, mas a narrativa pode parecer esparsa em momentos, exigindo que o jogador invista na exploração de documentos e diálogos para compreender o contexto. Para o público brasileiro, que talvez não esteja familiarizado com as nuances da mitologia chinesa, o jogo oferece um glossário acessível no menu, mas ainda assim pode demandar certo esforço para mergulhar completamente em seu universo.

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Crítica Equilibrada: O Brilho e as Sombras

Wuchang: Fallen Feathers acerta em muitos aspectos, mas não está isento de falhas. A dificuldade, embora justa na maior parte do tempo, pode ser inconsistente, com picos que desafiam até os veteranos do gênero. A câmera, em espaços apertados, ocasionalmente atrapalha, um problema comum em soulslikes, mas que aqui se faz notar. Além disso, a abundância de NPCs com diálogos longos pode diluir a atmosfera opressiva que o jogo tão bem constrói. Por outro lado, a integração de elementos culturais chineses é feita com respeito e profundidade, algo que ressoa em um mercado global cada vez mais atento à diversidade narrativa nos jogos.

Conclusão: Um Marco Cultural no Gênero Soulslike

Wuchang: Fallen Feathers é mais do que um soulslike competente; é uma celebração da história e da mitologia chinesas, embrulhada em um pacote de combate visceral e ambientação deslumbrante. Apesar de pequenos tropeços, como a dificuldade ocasionalmente desbalanceada e alguns diálogos prolixos, o jogo entrega uma experiência que honra suas inspirações enquanto pavimenta seu próprio caminho. Para o público brasileiro, é uma oportunidade de mergulhar em um universo que, embora distante geograficamente, fala de temas universais como perda e resiliência. Bai Wuchang, com sua espada e seu passado fragmentado, é um convite a dançar com as sombras – e essa dança, ainda que desafiadora, é inesquecível.

 

8.0 / 10Nota
Nota 8.0

Wuchang: Fallen Feathers

A Dinastia Ming está Em Apuros!

No crepúsculo da dinastia Ming, onde a guerra civil e uma praga sobrenatural corroem a terra de Shu, Wuchang: Fallen Feathers emerge como uma carta de amor ao gênero soulslike, mas com uma identidade cultural distinta. Desenvolvido pela Leenzee, estúdio de Chengdu, e publicado pela 505 Games, o jogo, lançado em 24 de julho de 2025, transporta os jogadores para um mundo onde história e mito se entrelaçam em um balé de lâminas e feitiços.
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